15 de outubro de 2009

EU POSSO


Ter a possibilidade de quê? De tudo, de quase tudo. Um bilhão de motivos para querer algo, aquilo, isso, isto. Andar sem cabeças curvadas, sonhar duas bolas de baunilha, uma canção, um beijo, uma viagem ao espaço sideral. Se eu posso nada me impede de imaginar flores bizarras ou mistérios profanos. Usar a primeira pessoa: eu. Colocar em ação a primeira pessoa: eu. Ter ânimo para fazer um plano de ruptura, transformar as coisas sólidas num vai e vem. Bulir, mexer, estirar o corpo para a mão alcançar o que ninguém vê. Se eu posso, a capacidade me vem, me toma me move.

Eu posso imitar o canto daquela ave rara, descer ao centro da terra, inventar dimensões que nenhuma geometria prevê. Eu, dois pontos. Eu posso pular: posso? Pode. Eu topo: pule. Posso tocar agora? Pode: eu posso mudar o vento de lugar, arrasta o lá pra junto do fá, esticar a corda, estirar o canto, inventar uma harmonia com imagens de areias, pedras, morros. Se eu posso, eu não morro. Quando eu posso, viva eu. Tudo me vira tudo se move. Possibilidades escondidas no verbo poder. Basta colocar num pronome de duas letras na frente e pronto. Eu posso? Pode.

Você pode. O quê? Ah, esqueci. Só sei que posso. Ah, lembrei. Agora eu posso. Então vamos lá. Então tá. Tá lá? Tá. Por quê? Por que eu posso. Viu? Ainda não. Agora sim. vi. Mas como? Como assim? Assim ué. Tudo começa a brilhar vira clarão. Claridade, um colar iluminado em torno da lua, muitas visões se desplumam pelo ar. Que verbo voador é aquele ali? Ele passou rápido porque tem alguém conjugando ele. Consegue ver? Daqui eu posso.
Eu farfalho. Depois flutuo. eu levito, eu levanto, eu arremeto. Eu ouço. Eu somo. Eu vejo. Eu escuto. Eu danço. Eu salto alto. Eu vôo longe. Eu aposto. Tudo eu quase posso. Tudo passa. Tudo fica um pouco. Eu fico. Eu avanço. Eu amo. Eu zanzo zonzo. Tudo eu posso naquele que me fortalece: eu. Posso seguir adiante. Avante. Invenção. Surpresa. Avance. Pode. Você pede você quer você ganha. Então pode.

Acorda o corpo, algum batuque te chama. Empresta o teu sono para a pedra que ronca. Será possível isso? As chaminés fazem exclamações na paisagem. Adivinha que horizonte é esse: ah, não acredito! Anda, anda. Vai à frente abrindo caminho. Você pode? Eu posso. A vontade é que determina os acontecimentos. E eu estou com vontade. Eu posso dois pontos: ponto inicial.

Por Eduardo Logullo para revista ffw>>MAG "LIBERDADE É PROIBIDO PROIBIR"

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